Dinâmica Sul | 10/12/2020
Durante a pandemia, o WhatsApp foi a solução encontrada para muitos condomínios que, por força de lei, tiveram de restringir encontros presenciais. No auge das contaminações, até mesmo reuniões administrativas foram desaconselhadas, ou mesmo proibidas.
Como os síndicos precisavam, naquele momento, do aval dos moradores para a tomada de algumas decisões, o jeito foi criar meios virtuais de diálogo e escuta. A solução que já estava à mão era o WhatsApp – até por ser o aplicativo de conversa mais usado no Brasil.
Mas o que era ser um facilitador, em alguns casos, tornou-se um grande problema.
Dia após dia, novas formas de se comunicar são inventadas. Umas gratuitas, como o WhatsApp, outras pagas, o fato é que elas mudaram a forma como trocamos informações com nossos familiares, amigos e vizinhos.
E o que era pra ser apenas “por diversão”, acabou se revelando como importante instrumento de interação interpessoal. A pandemia que o diga! Ao longo dos meses, foram esses novos meios, aplicativos, que possibilitaram a realização de assembleias virtuais onde decisões importantes eram tomadas!
O WhatsApp, assim como outros aplicativos de troca de mensagens, trouxeram muita agilidade à comunicação. Disso ninguém discorda! Por outro lado, ajudaram a diminuir nossa “sensação de privacidade”, já que todos podem, a qualquer tempo, enviar uma mensagem a você.
E se você não desmarcar a “confirmação de leitura”, aquele que a enviou fica sabendo a hora do recebimento do texto, e o momento em que ele foi lido. Isso pode gerar aquela cobrança: “Leu e não respondeu por qual motivo? Estou esperando!”.
Nos grupos, mesmo retirando a tal “confirmação”, a pessoa que enviou a mensagem consegue ver se você a recebeu e leu. De certo modo, isso tira a privacidade. Só com este exemplo já dá pra imaginar que, apesar da rapidez, esses aplicativos têm “efeito colateral”.
Mas antes de falar de outras desvantagens do WhatsApp para condomínios, vamos mostrar algumas coisas positivas que, sem ele, seriam impensáveis anos atrás:
- GRATUIDADE: basta ter acesso à internet que você pode enviar um número ilimitado de mensagens de áudio, texto, e até fazer chamadas de vídeo.
- SEM PUBLICIDADE: por ser gratuito, esperava-se que fosse cheio de publicidades – o que é muito ruim. Mas não é isso que acontece. É de graça e sem propagandas.
- DISPONÍVEIS PARA VÁRIOS SISTEMAS: está acessível para iOS, Android, além de vários outros sistemas. Pode, inclusive, ser acessado via computador ou tablet.
- COMPARTILHAMENTO DE ARQUIVOS: Permite o compartilhamento de documentos em vários formatos (.doc, .xls, .pdf, entre outros). Para o gestor, isso é muito importante!
Agora que vimos as vantagens, é hora de conhecer as desvantagens. Isso mesmo! Pode parecer estranho, mas esses aplicativos não têm só um lado bom. Vejamos:
- NEM TODO MUNDO POSSUI: embora quase todos tenham o aplicativo instalado em seus celulares, ainda há aqueles que não possui, ou optam por outra ferramenta. Mas em um condomínio, o síndico precisa se comunicar com todos, sem exceção.
- REQUER TEMPO PARA ADMINISTRAR: o uso do WhatsApp acrescentou uma demanda considerável aos gestores, pois tiveram que sanar dúvidas e resolver problemas por ali (dependendo da forma como alguém “entendeu” determinada frase, isso ainda gera um problema a mais, pois a mesma pode ficar ofendida, desorientada, etc.).
- ALGUMAS PESSOAS ACHAM QUE VOCÊ TEM QUE RESPONDER A TODO TEMPO: soma-se a isso aquelas pessoas que acreditam que a figura do síndico precisa estar 24h por dia disponível para responder perguntas e resolver problemas via WhatsApp.
- GERA PROBLEMAS DE FALTA DE ENTENDIMENTO, CONFLITOS E AFINS: como falamos anteriormente, algumas pessoas, por entenderem errado uma mensagem (sobretudo de texto), podem ficar chateadas, e isso acaba gerando novos conflitos.
Para eliminar tais problemas nos grupos online do condomínio, síndicos adotaram a seguinte estratégia: criaram “diretrizes de uso” especificando o que podia e o que não podia ser escrito. E sempre que algum novo membro era adicionado, as diretrizes eram coladas novamente – tanto para conhecimento do novato, quanto para lembrete aos demais.
Ocorre que, em muitos casos, só ter “diretrizes de uso” não bastou, pois as pessoas simplesmente não respeitavam tais diretrizes. E por mais que se insistisse que elas deveriam ser observadas, alguns condôminos simplesmente as ignoravam.
Então a solução foi permitir que apenas os administradores do grupo, síndicos e subsíndicos, postassem mensagens. Os demais moradores poderiam reagir às mensagens, mas de maneira privada. Assim, caso alguém quisesse questionar algo que foi postado no grupo, esse alguém precisava “responder em particular”. Com isso, a paz voltou a reinar, pois apenas a administração recebia os feedbacks, que eram prontamente encaminhados.
Contudo, nem todos os condomínios adotaram essa modalidade (de só permitir que os administradores postassem conteúdos no grupo). Para evitar que as regras fossem descumpridas, além de criar diretrizes de uso, os moradores também foram orientados a não postar nada sobre religião, política, piadas, mensagens de “bom dia” e “boa noite”, e assuntos aleatórios – que não têm nada a ver com a vida e rotina do condomínio em si.
Em caso de descumprimento, ou seja, caso o vizinho ainda insistisse em comentar sobre a novela ou pedir voto para seu candidato favorito, o mesmo era advertido uma vez e, na segunda, excluído do grupo. Resolveu o problema? Sim, mas criou outra situação: alguns moradores insatisfeitos criaram grupos paralelos para, também, debater questões do condomínio. Isso não é necessariamente algo ruim. Mas contribui pouco para encontrar consensos entre o conjunto de moradores, uma vez que a comunicação ficou dissipada.
O uso do WhatsApp nos condomínios durante a pandemia, sobretudo a funcionalidade dos grupos, realmente foi de muita utilidade. Sem eles, muitas coisas não poderiam ter sido solucionadas num bom tempo. No entanto, como vimos, também gerou alguns atritos.
O certo é que toda solução, quando bem utilizada, dificilmente irá gerar grandes problemas. Por outro lado, tudo que é usado sem parcimônia, ou seja, sem o devido bom senso, acaba causando transtornos.
O que se sabe é que, no futuro, os condomínios não mais poderão viver sem essas soluções tecnológicas adotadas durante a pandemia. Caberá às administrações encontrarem o melhor caminho para que “o remédio não vire veneno”.